sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

⊱✿⊱ Sobre O Que Seria O Amor. ⊱✿⊱

    Ela só o amou porque era preciso.
Ele só a amou porque não sabia definir o que sentia por ela.
Para ele não morrer de tédio e ela de depressão.
Para ele ter o que esperar e ela algo para acreditar.
Para os dois preverem o futuro como fazem os videntes bem pagos.
Para ter um passado bonitinho para lembrar.
Ela ter a quem escrever coisas melosas e um motivo para criar sonhos impossíveis.
Para ele ter alguém sempre que precisasse
Para fingirem conhecer alguém mais que a si mesmo, e, assim,  se sentirem menos só.
Para brincarem de dizer “eu te amo pra sempre”.
Para desconfiar do óbvio.
 E dizer verdades indefinidas com a honestidade dos que têm fé. Para se reconhecer.
Para ele sorrir e ela, junto dele, se sentir feliz.
Por causa da adrenalina, da serotonina, da dopamina, dos feromônios, do estrógeno e da testosterona.
Por causa do sexo. Do gozo. E da vontade de morrerem suados, ao mesmo tempo, um ao lado do outro.
Ela quase esquecendo que era apenas por um tempo finito, ele sem esquecer que ela era mais uma em sua cama.
 Para fazê-la compreender o que ela mesma desaprendia.
Para fazê-lo enxergar que o “amor” é incomensurável e, que talvez, podia mesmo ser maior que o finito.
 Para preencher o ócio com pensamentos em alguém.
Para virarem melhores amigos. E serem perigosamente e totalmente sinceros um com o outro.
Pelo desejo, puro. Para ficarem bestificados e atônitos. Para citar escritores que nunca existiram.
Pelos ciúmes, o medo, o desgaste, a raiva e a posse.
Por causa do prazo de validade.
Por ela estar se tornando meticulosamente enjoada e ele insuportavelmente repetitivo.
Pelo rabo da vizinha tornar-se de súbito mais interessante que os versos dela.
Porque há tanta gente mais cativante e surpreendente que ele esperando para ser descoberto.
Por “eu te amo” significar tanto quanto um “até amanhã”.
Para ele continuar a mentir e ela aprender a perceber quando estão mentindo.
Para nunca, nunca mais cogitarem a ideia de se auto-enganar.
Para aceitarem, outra vez, que a tendência do que começa é, invariavelmente, acabar.
Porque acaba.
Para reencontrarem a tristeza e amadurecerem mais umas décadas.
Para se procurarem em quem lhes encontrar.
Para ele dizer: “espero que tu sejas feliz” sem mágoas.
Para ela dizer: “obrigada pela felicidade” e achar que isso daria um texto.
Para descobrirem outros e se apaixonarem de novo e de novo.
Para rirem de tudo, quem sabe.
Para ele tornar-se mais verdadeiro.
Para ela tornar-se mais ela.
Em nome da poesia, do lirismo, do inexplicável, do insólito, da coragem, da beleza.
Para brincarem de dizer: “porra, mas eu te amei pra caralho”.
E terem alguma certeza, enfim.
Para descobrir que as verdades são momentâneas e as mentiras são apenas vontade de ser feliz.
Ou  tudo isso vice-versa. Sei lá.

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